O Valor do Tempo

“Há ciclos na vida em que o nosso tempo vale experiência. Há outros, em que esse tempo passa a valer dinheiro. Os dois são essenciais!”

Quantos de nós já não se questionaram sobre aquilo que ganham ao fim do mês? Quantos já não se sentiram indignados com o valor/hora do seu trabalho? Quantos não recusaram determinadas experiências profissionais porque o salário a auferir não “compensa”! Quantos não preferem manter um subsídio de desemprego, porque é mais justo e confortável, do que estar a ganhar o mesmo (ou em algumas situações menos), e ter que sair de casa para ir trabalhar?

A verdade é que temos esta crença enraizada de que o valor do nosso tempo se mede pelo dinheiro que nos é pago. Acreditamos que um determinado diploma ou competência, logo à partida, faz-nos merecer pelo menos X valor no final do mês.

Pergunto eu: então e o valor da experiência? O valor das competências sociais e relacionais que muitas vezes adquirimos só por estarmos a trabalhar naquele local? O valor da “prática” em ligação ao valor do “conhecimento”?

Deixemos de nos enganar, ao pensarmos que merecemos ganhar logo X valor a partir do momento em que terminamos um curso universitário ou ganhamos um determinado “estatuto” que logo de início nos faz merecer X dinheiro.

Pensemos, então, quanto será o nosso valor em dinheiro quando em ligação ao conhecimento já tivermos anos de experiência. Não será um pouco prematuro da nossa parte reconhecermos o valor de uma experiência profissional apenas pelo valor monetário que dão ao nosso tempo?

Desde que comecei a trabalhar ambicionei por uma oportunidade na área da formação. Sei que o ciclo normalmente é: “Desculpe, mas não tem experiência!” E do outro lado questiona-se: “Mas como vou conseguir ganhar experiência se não me for dada uma oportunidade?”. Neste seguimento, a minha estratégia passou por adquirir conhecimentos complementares em diferentes entidades formativas. Fiz por mostrar o meu valor nas próprias ações de formação e em determinado momento pedi por uma oportunidade de me estrear como formadora. Esse dia acabou por chegar e o meu primeiro valor/hora foi de cerca de 20€. Estava radiante e sentia-me valorizada. Continuei a trilhar caminho na formação. Estava a ser bem remunerada, a ganhar experiência, a colocar em prática os meus conhecimentos teóricos, a aprender a superar desafios que só temos quando estamos no terreno, a conhecer tantas pessoas e a fazer contactos importantes. Isto valia muito mais do que os 20€/hora.

Mais tarde, vi um anúncio para dar formação numa grande empresa em Portugal, detentora na altura do monopólio de um determinado serviço. Cheguei à entrevista e vi dezenas de candidatos, entusiasmados como eu só por estarem ali e terem passado a uma primeira fase de seleção. À medida que o tempo ia passando, via-os a sair com ar cabisbaixo, menos motivados e alguns até revoltados. Aquela grande empresa, oferecia a oportunidade de ministrarmos formação a 5€/hora. Também eu pensei que era um “abuso”, uma falta de valorização, um ataque até ao próprio mercado de trabalho na área da formação. Já entrei na sala “de pé atrás”, mas ainda assim decidi entrar. A oferta, para além dos 5€/hora, dava acesso a todo o material já preparado e disponível para o formador iniciar de imediato o seu trabalho. Quem conhece o mundo da formação, sabe que muitas vezes, fica ao encargo do formador preparar uma série de documentação, que requer tempo em casa para além das horas em contexto formativo. Ali, todo esse material estava feito. Ofereciam a possibilidade dos formadores selecionados, darem formação naquela empresa a tempo integral, seria um valor mensal de cerca de 700€. Claro que ainda assim muito baixo, tendo em conta os descontos que teriam de ser feitos. Eu pensei: são três meses de formação, com muitos contactos novos que vou fazer. Pessoas que me vão acrescentar experiência e valor através das suas partilhas. Vou desenvolver-me nesta arte de comunicar com o outro e para mim que estou a começar, esse é um ganho substancial. A formação é certificada, o que é ótimo para qualquer formador. O horário permitia-me, ainda, conciliar a formação com as consultas que já dava e as explicações de psicologia e filosofia. E para além disso, são 700€ a fazer uma coisa que eu adoro. Aceitei! Não para alimentar um mercado que desvaloriza a função do formador, mas porque sendo a formação uma área em que queria investir e ganhar experiência, o meu tempo naquela altura valia por essa mesma experiência. 

Também já passei pela experiência de estar em locais a trabalhar, em que o meu tempo já não valia só pela experiência. O meu tempo valia dinheiro, porque aquele dinheiro seria a demonstração do valor de toda a minha experiência já adquirida. E como isso não aconteceu, arrisquei-me em dizer “NÃO” e procurei alternativas em que sentisse esse valor.

O que vos quero sugerir enquanto reflexão, é que analisem de diferentes perspectivas o valor do vosso tempo, mediante o contributo e o próprio valor que podem acrescentar em determinado local de trabalho. Vejam os ganhos paralelos ao vosso salário. Percebam que, por vezes, a oportunidade não vos quer trazer de imediato aquele montante ao final do mês, mas sim aquilo que mais precisam para um dia o vosso tempo passar a valer realmente dinheiro. E o que podem estar a precisar é de: segurança, experiência, contactos, competências específicas, aprendizagens únicas, regalias sociais, etc.

Haverá um “click” na vida quando for altura de mudarem e se aventurarem na procura de uma oportunidade em que o vosso tempo já valha o tal dinheiro e o salário que ambicionam. Nesse preciso momento, deixem as inseguranças e os medos de lado, aceitando a oportunidade de poderem ser recompensados por toda a vossa experiência e conhecimento académico e vivido. Nesse momento, precisam de um ato de fé. Fé em vocês mesmos e no valor que adquiriram. Fé nas vossas competências e no valor que podem acrescentar no outro lado. Fé no tempo, que é sábio e no momento certo, valoriza o vosso próprio tempo de maneiras tão distintas.

Valorizem-se… e tenham cuidado com os perigos da subvalorização ou da sobrevalorização!

Marta P. Rodrigues

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